quinta-feira, março 08, 2007

Os cinco elementos



Às quartas-feiras na UBP temos estado a "explorar" os cinco elementos. Há um texto lindíssimo de Tenzin Wangyal Rinpoché que, embora um pouco longo, vale a pena ler. É um pouco o mito da criação à maneira tibetana :)



"Para cada um de nós tudo começa com o espaço primordial, a Grande Mãe onde todas as coisas existem, e em que todas as coisas se dissolvem. Neste espaço há movimento. O que o causa, ninguém sabe. Os ensinamentos apenas dizem: “Os ventos do karma moveram-se”. Este é o movimento do nível mais subtil do lung ou prana, a energia que impregna o espaço infinito, sem características ou divisões. Unido indissoluvelmente ao fluxo de prana está o fluxo da consciência (awareness) primordial, pura e sem identidade. Nesta consciência pura surgem cinco luzes.

As cinco luzes são aspectos da luminosidade primordial. Estas são as cinco luzes puras, o nível mais subtil dos elementos. Falamos sobre a luz e a cor das cinco luzes puras, mas isto é simbólico. As cinco luzes puras são mais subtis do que a luz visível, mais subtis do que tudo o que é percepcionado pelos olhos, mais subtil do que qualquer energia medida ou avaliada por qualquer meio. São as energias de que todas as outras energias, incluindo a luz visível, surgem.

A luz branca é o espaço, a verde é o ar, a vermelha é o fogo, a azul é a água e a amarela é a terra. Estes são os cinco aspectos da luminosidade pura, as energias de arco-íris da esfera da existência.

Quando as cinco luzes são vividas dualisticamente, enquanto objectos para um sujeito que as percepciona, tornam-se mais substanciais. As cinco luzes não se tornam mais grosseiras, mas através da distorção da visão dualística, o indivíduo vê-as como mais grosseiras. Como os elementos se tornam mais substanciais, são mais discriminados, e através das suas interacções manifestam-se enquanto fenómenos, incluindo o sujeito e os objectos que formam toda a experiência dualística.

As cinco luzes tornam-se os elementos naturais, em bruto, e cinco categorias inclusivas de qualidades pertencentes à realidade externa. Tornam-se as diferentes dimensões da existência que são os vários reinos nos quais seres com ou sem forma existem. Como que endurecem e formam os órgãos, os cinco ramos do corpo, os cinco dedos de cada mão, os cinco dedos de cada pé, os cinco sentidos, e o campo dos cinco sentidos. E se continuamos na ilusão, as cinco luzes tornam-se as cinco emoções negativas ou as cinco sabedorias e as cinco famílias de Buda se reconhecermos a sua pureza.

Isto não é uma história sobre uma criação que aconteceu num passado distante. É sobre como vivemos enquanto seres e sobre a ignorância e a iluminação. Se as cinco luzes são reconhecidas como não-dualistas, manifestações incessantes da pura base da existência, o nirvana começa. A consciência (awareness) não se torna ignorante ou iluminada – permanece não dual e pura. Mas as qualidades que nela surgem podem ser vistas como positivas ou negativas. Se a consciência integra e identifica as qualidades puras, um Buda surge; se se identifica com as impuras, um ser samsárico surge. Neste preciso momento, agora, aqui, o processo continua.

Dependendo do facto de integrarmos a nossa experiência imediata com consciência não dual ou de nos agarramos à falsa separação de nós mesmos enquanto sujeitos que experienciam objectos e entidades externas, estaremos num estado natural não dual ou numa mente ignorante."

(do livro Healing with Form, Energy and Light)

Começámos esta investigação pelos elementos na semana passada a partir do elemento Terra. Não sabia muito bem o iria sair dali e, a nível pessoal, a sessão superou as minhas expectativas.

Ontem o Guilherme trouxe-nos um poema sobre o primeiro tema/elemento:


Terra


Qualidade que permite estar
E te-cer o corpo que permanece
Na imobilidade do segredo profundo


Império de cristal mais puro
Duração infinda e inanimada
Da massa espessa e escura


Entidade ordenada e previsível
Trama relacional dos acontecimentos
Alicerce primordial das verdades


Compreensão (e compressão) silenciosa.

imagem: Andy Weber

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