terça-feira, setembro 25, 2007

Cavalgada



(recebi por email :) - hello João Sá!, algures no Brasil)

Existe uma história zen sobre um homem e um cavalo. O cavalo está galopando rapidamente, e parece que o homem que cavalga se dirige a algum lugar importante. Outro homem, em pé ao lado da estrada, grita:
- Aonde você está indo?
E o homem a cavalo responde:
- Não sei. Pergunte ao cavalo!

Esta é a nossa história. Estamos todos sobre um cavalo, não sabemos aonde vamos e não conseguimos parar. O cavalo é a força de nossos hábitos que nos puxa, e somos impotentes diante dela. Estamos sempre correndo, e isso já se tornou um hábito. Estamos acostumados a lutar o tempo todo, até mesmo durante o sono. Estamos em guerra com nós mesmos, e é fácil declarar guerra aos outros também.

Precisamos aprender a arte de fazer cessar – parar nosso pensamento, a força de nossos hábitos, nossa desatenção, bem como as emoções intensas que nos regem. Quando uma emoção nos assola, ela se assemelha a uma tempestade, que leva consigo a nossa paz. Nós ligamos a TV e depois desligamos, pegamos um livro e depois o deixamos de lado. O que podemos fazer para interromper este estado de agitação? Como podemos fazer cessar o medo, o desespero, a raiva e os desejos? É simples. Podemos fazer isso através da prática da respiração consciente, do caminhar consciente, do sorriso consciente e da contemplação profunda – para sermos capazes de compreender. Quando prestamos atenção e entramos em contato com o momento presente, os frutos que colhemos são a compreensão, a aceitação o amor e o desejo de aliviar o sofrimento e fazer brotar a alegria.

Mas a força do hábito costuma ser mais forte do que nossa vontade. Dizemos e fazemos coisas que não queremos e depois nos arrependemos. Causamos sofrimento a nós mesmos e aos outros e, de forma geral, produzimos grande quantidade de destruição. Podemos ter a firme intenção de nunca mais fazer isso, mas sempre acabamos fazendo de novo. Por que? Porque a força do hábito acaba vencendo e nos levando de roldão.

Precisamos da energia da atenção plena para perceber quando o hábito nos arrasta, e fazer cessar esse comportamento destrutivo. Com atenção plena, temos a capacidade de reconhecer a força do hábito cada vez que ela se manifesta.
- Alô, força do hábito, sei que você está aí!
Nessa altura, se conseguirmos simplesmente sorrir, o hábito perderá grande parte de sua força. A atenção plena é a energia que nos permite reconhecer a força do hábito e impedi-la de nos dominar.

Por outro lado, o esquecimento ou negligência é o oposto. Tomamos uma xícara de chá sem sequer perceber o que estamos fazendo. Sentamo-nos com a pessoa que amamos, mas não percebemos que a pessoa está ali. Andamos sem realmente estar andando. Estamos sempre em outro lugar, pensando no passado ou no futuro. O cavalo dos nossos hábitos nos conduz, e somos prisioneiros dele. Precisamos deter esse cavalo e resgatar nossa liberdade. Precisamos irradiar a luz da atenção plena em tudo o que fizermos, para que a escuridão do esquecimento desapareça.

(Thich Nhat Hanh, em A Essência dos Ensinamentos de Buda)

segunda-feira, setembro 10, 2007

A vida vale a pena...

.. mas é preciso prática. Este é o título de um livro do Bo Lozoff, co-fundador de Human Kindness Foundation. Li há uns anos atrás We're all Doing Time (sobre meditação nas prisões mas, basicamente, "somos todos prisioneiros"), e o que me interessou foi o lado muito prático de tudo o que ele dizia. Neste It's a Meaningful Life a urgência da prática neste Planeta Terra & Companhia Lda está ainda mais em evidência. Para além de uma vida mais simples e atenta às pequenas coisas, Bo Lozoff sugere práticas a que nos podemos dedicar durante um determinado período de tempo, por exemplo, um mês - em vez de pensar que temos tanto por onde começar... que não começamos nada. E para os mais apressados, o facto de tomarmos consciência de determinados padrões, é já muito importante. Por exemplo, mesmo que não consigamos começar por um voto tipo "não falar de ninguém que não esteja presente", porque não começar por nos darmos conta de quantas vezes falamos de alguém sem essa pessoa estar presente? Esse pequeno passo é já muito revelador.... a não ser, claro, que passemos à fase seguinte... pois "podemos fazer o mais difícil":

"We have a saying around Kindness House, the community where I live: 'You can do hard.' The reason that we say this is that, in our modern era, the words 'It's too hard' have become an anthem for giving up. Have an ache or pain, reach for a pill; get depressed after losing a job, take Prozac for a while. A friend once confided to me that she regretted divorcing her husband. She said the only reason she did it was the prevailing attitude at the time that 'If it gets really hard, why make yourself suffer?' Maybe we have become afraid to tackle anything that might be very hard; maybe we've been convinced that we can't do hard things.

" 'You can do hard' is one of my community's ways of reminding us that we need not run away in fear just because something is greatly challenging. It might be daunting, but we can do daunting. It might even be scary, but we can do scary. No matter how bad it is-and it could be very bad for a while-we can do it. And then years later, it's just one sentence: 'Sita and I hated each other for most of 1979; we held on to our marriage by a thread.' Just one little sentence in a conversation. Nothing extraordinary. Nobody falls over when you tell them.

"We can do hard. Really, we can. Don't let a brief cultural myopia fool you into thinking you'll crumble when the chips are down. Human beings are designed for the chips to be down sometimes. We can endure unimaginably hard things and come out better for them."

... O que me faz recordar ainda uma entrevista que li há pouco tempo com um filósofo francês da actualidade (acho que foi o Gilbert Simondon), que dizia que um dos grandes flagelos do mundo moderno é o complexo de vitimização. Não só procuramos coisas fáceis como quando se torna difícil, somos todos vítimas. Esse tipo de visão falsa só pode arrastar-nos para mais outra história... ou para nos afundar-nos ainda mais na nossa história...

sexta-feira, setembro 07, 2007

Hatsume Sato - curar o coração


Um encontro na Net: Hatsume Sato é a fundadora de Ischia na Floresta (Mori-no-Iskia - Japão), um "oásis" para alimentar o corpo e a mente dos "viajantes cansados" ou seja, de muitos de nós. E de uma forma simples, através de palavras com coração e das suas Omusubi (bolas de arroz) - pessoas com tendências depressivas que as comeram reencontraram a alegria de viver. Muito nova, e face a situações difíceis, descobriu que a única coisa que a única coisa que podemos dar é o nosso coração. Ela soube dar o dela. Falam de Hatsume com a Mãe Teresa japonesa e apareceu num documentário sobre o Japão, Gaia Symphony II, ao lado de personalidades como o Dalai Lama.