segunda-feira, agosto 07, 2006

Alentejanices

Este tempo e este vento quente dá para pensar nestas coisas. O movimento slow (também conhecido por devagar, que amanhã também é dia!) começou no dia em que os habitantes de Roma se deram conta que iriam ter um MacDonald na Piazza di Spagna (um pouco como se tivessem decidido, sei lá, pôr uma estação do metro na Praça, aqui no Porto!). Fala-se de movimento e não de organização, até porque é sobretudo uma atitude, uma forma de estar, que se relaciona com muitos campos e actividades - a cozinha, mas também a educação, a meditação, o comércio, a construção, a urbanização, as terapias.. e, claro, está, a política. A ideia também não é ficarmos sentados à sombra da bananeira, mas sermos mais conscientes em relação a como usamos o nosso tempo, a como vivemos, a sermos mais selectivos em relação às nossas actividades, e a darmos espaço e tempo para apreciar integralmente aquilo que fazemos.

Vejo o movimento slow como uma manifestação de atenção plena, mindfulness, uma espécie de movimento eco-epicúrico, não no sentido nostálgico de querermos recuperar algo do passado, mas de pôr em questão esta pressa toda e encontrar um equilíbrio, no reconectar com a fruição do agora. Porque afinal, para onde vamos assim a correr? e o que é mais importante, afinal? No dia-a-dia habituámo-nos a que tudo tem de ser rápido, fácil e prático. Inventaram-se técnicas, produtos e sistemas, em princípio para "descomplicar", para simplificar a vida, mas estamos muito longe da visão de Bertrand Russell de que o homem do futuro estaria mais preocupado em gerir o ócio - pelo que se vê as pessoas "não têm tempo". E aliás, se há um momento de "vazio", apressam-se rapidamente a preenchê-lo.
Para os pais, é cada vez mais necessário relaxar em relação ao horário das crianças - se vão à escola, ao ballet, ao piano, à ginástica, à informática, etc., quando é que têm tempo para ser crianças?

Algumas formas de abrandar:

- arranja um hobby completamente radical, um hobby "lento" - tricotar, fazer yoga, chi kung, pintar, jardinar
- pára de olhar para o relógio o tempo inteiro e nos fins-de-semana tenta seguir o teu ritmo "natural", de preferência esquece despertador e relógio
- faz compras numa feira, num mercado, telefona para o Raízes
- faz refeições completas sentado a uma mesa, sem televisão, sem leitura, sem telemóvel, aprecia a comida e a conversa, se estiveres com outros
- nas férias, abranda mesmo; não é preciso fotografar todos os lugares e seguir uma lista de todos os monumentos e ter um horário para cada actividade
- reserva tempo para as pessoas e actividade de que gostas - na verdade, ao querer preencher freneticamente todos os momentos, não resulta em mais criatividade e eficácia... isso inclui, tomar banho com alguém que amas!

O título "alentejanices" não pretende ser, de modo nenhum, depreciativo! é mesmo uma homenagem a uma região fantástica de muitos pontos de vista! para nem falar de uma culinária tradicional absolutamente incrível!