segunda-feira, agosto 28, 2006
pensamento positivo?
Entretanto, para complementar as observações sobre o livro "The Last Self-Help Book You’ll Ever Need", um artigo muito claro do blog Territórios da Mente: Reservas quanto ao pensamento positivo!, do Professor Luiz Machado
sábado, agosto 26, 2006
Ferramentas
Um dos aspectos bonitos do retiro foi a presença dos "outros", esses outros, americanos, que se revelaram uma presença sincera, discreta, e inspiradora. Eles rezam antes de comer (em silêncio!), fazem uma reverência virados para o lugar onde se vão sentar, à maneira do Zen, e fazem-no notoriamente pensando no que estão a fazer. Não arrastam as cadeiras, tentam não fazer barulho com as portas e ao andar nas escadas e nos corredores. Vê-se que se preocupam em fazer as coisas "certo". Os pequenos gestos, as filas para as refeições, ou para pôr a louça na copa, tudo parece simples e ao mesmo tempo parte de uma coreografia.
Ao princípio a informação era tanta, que não só me perguntava se seria possível digerir alguma coisa como também se conseguiria integrar fosse o que fosse.
Geralmente durante satsang o Adya falava um pouco e depois respondia a perguntas. O ensino dele assenta fundamentalmente em duas vertentes: meditação (deixar as coisas como são - uma tradução desajeitada de "let everything be as it is) e investigação.
Uma das ferramentas que achei mais interessantes foi a de procurar qual a nossa crença fundamental, a que sustenta todas as outras, o que em inglês se chama core belief. Cada um pode ter uma crença muito pessoal, embora de uma maneira geral se possam resumir a coisas como: não sou digno, fui magoado, sou demasiado fraco, sou isto, sou aquilo. Adya deu o exemplo de alguém cuja crença fundamental era "fui magoado", ele disse-lhe para ir até ao fundo dessa crença, e claro, a pessoa descobriu no passado alguns dos acontecimentos que a levaram a formular essa opinião. O Adya disse-lhe para ir ainda mais fundo, e "desenterrou" então questões relacionadas com vidas anteriores (embora isso não seja necessário), até finalmente descobrir que não era verdade, ela não tinha sido magoada, porque nada nos pode magoar. Na minha investigação pessoal, ao princípio, claro, surgiram aquelas crenças que geralmente todos têm, quatro ou cinco, até que a certa altura, ao sentar na almofada, bum! caiu como uma bomba. A minha crença fundamental saiu formulada de uma forma que me arrasou.
Outras questões surgiram das perguntas dos participantes. Uma mulher falou da solidão, de ocupar-se o mais possível durante o dia de forma a chegar a casa o mais tarde possível... pois não havia ninguém em casa. Pude ver que essa era uma que tocou alguns (e a maneira de ver isso é quando alguém começa a chorar - por isso houve alguma choradeira nisto tudo!). Outra pessoa falou da sensibilidade à tristeza e à dor, a não aceitação do amor. E outra foi sobre a procura "I've been searching for 15 years and you tell me it's because I want to!"
Outra ferramenta importante do ensino de Adya é descobrirmos qual é "a nossa pergunta fundamental", a pergunta que nos levará a atravessar "o portal sem porta". Uma história interessante sobre este tipo de busca, é a de Högen, que ele conta no site The Open Way (o que me faz pensar na história de Perceval e que o problema era ele não fazer a pergunta).
Um ponto interessante abordado por Adya, foi o de não ter de escolher, o de seguir "a nossa inclinação" particular, que é única, que desabrocha para nós com o caminhar e incentiva-nos a seguir numa determinada direcção. Chega um momento, depois de alguma abertura, em que estamos sintonizados com a forma como as coisas são. Em que as coisas fazem sentido. Damos um passo, e não temos de pensar dois ou três mais à frente. Só temos de dizer sim àquele primeiro passo. E aí deixamos de andar a correr de um lado para o outro e juntamo-nos ao nosso propósito de vida.
"O que está a olhar através dos teus olhos, é o estado de consciência primordial."
"Não despertamos, o despertar desperta-se a si mesmo, a consciência está consciente de si mesma."
A última fotografia, de Adya e Mukti, é do site Adyashanti; as restantes são minhas.
Ao princípio a informação era tanta, que não só me perguntava se seria possível digerir alguma coisa como também se conseguiria integrar fosse o que fosse.
Geralmente durante satsang o Adya falava um pouco e depois respondia a perguntas. O ensino dele assenta fundamentalmente em duas vertentes: meditação (deixar as coisas como são - uma tradução desajeitada de "let everything be as it is) e investigação.
Uma das ferramentas que achei mais interessantes foi a de procurar qual a nossa crença fundamental, a que sustenta todas as outras, o que em inglês se chama core belief. Cada um pode ter uma crença muito pessoal, embora de uma maneira geral se possam resumir a coisas como: não sou digno, fui magoado, sou demasiado fraco, sou isto, sou aquilo. Adya deu o exemplo de alguém cuja crença fundamental era "fui magoado", ele disse-lhe para ir até ao fundo dessa crença, e claro, a pessoa descobriu no passado alguns dos acontecimentos que a levaram a formular essa opinião. O Adya disse-lhe para ir ainda mais fundo, e "desenterrou" então questões relacionadas com vidas anteriores (embora isso não seja necessário), até finalmente descobrir que não era verdade, ela não tinha sido magoada, porque nada nos pode magoar. Na minha investigação pessoal, ao princípio, claro, surgiram aquelas crenças que geralmente todos têm, quatro ou cinco, até que a certa altura, ao sentar na almofada, bum! caiu como uma bomba. A minha crença fundamental saiu formulada de uma forma que me arrasou.
Outras questões surgiram das perguntas dos participantes. Uma mulher falou da solidão, de ocupar-se o mais possível durante o dia de forma a chegar a casa o mais tarde possível... pois não havia ninguém em casa. Pude ver que essa era uma que tocou alguns (e a maneira de ver isso é quando alguém começa a chorar - por isso houve alguma choradeira nisto tudo!). Outra pessoa falou da sensibilidade à tristeza e à dor, a não aceitação do amor. E outra foi sobre a procura "I've been searching for 15 years and you tell me it's because I want to!"
Outra ferramenta importante do ensino de Adya é descobrirmos qual é "a nossa pergunta fundamental", a pergunta que nos levará a atravessar "o portal sem porta". Uma história interessante sobre este tipo de busca, é a de Högen, que ele conta no site The Open Way (o que me faz pensar na história de Perceval e que o problema era ele não fazer a pergunta).
Um ponto interessante abordado por Adya, foi o de não ter de escolher, o de seguir "a nossa inclinação" particular, que é única, que desabrocha para nós com o caminhar e incentiva-nos a seguir numa determinada direcção. Chega um momento, depois de alguma abertura, em que estamos sintonizados com a forma como as coisas são. Em que as coisas fazem sentido. Damos um passo, e não temos de pensar dois ou três mais à frente. Só temos de dizer sim àquele primeiro passo. E aí deixamos de andar a correr de um lado para o outro e juntamo-nos ao nosso propósito de vida.
"O que está a olhar através dos teus olhos, é o estado de consciência primordial."
"Não despertamos, o despertar desperta-se a si mesmo, a consciência está consciente de si mesma."
A última fotografia, de Adya e Mukti, é do site Adyashanti; as restantes são minhas.
terça-feira, agosto 22, 2006
RESISTANCE IS FUTILE
Poderia ter levado todas as expectativas que coubessem na bagagem... e muito mais. E mesmo assim teriam sido superadas. Estar naquele lugar e viver o que vivi foi simplesmente estar mais próxima do real. Foi poder tocar-lhe com os dedos e olhá-lo nos olhos. E ver que tem o meu olhar. This wine is Within in you. Em comparação, tudo o resto me parecia um sonho longínquo.
A viagem foi marcada por "largar". Comecei por ter de largar coisas como champô, pasta de dentes, perfume, corta-unhas, comprimidos de ferro, etc. por causa das tais medidas anti-terroristas nos aeroportos. E depois, largar pensamentos menos positivos. Já repararam como a maior parte dos "filmes de antecipação" que dirigimos na nossa cabeça, simplesmente não acontecem? O voo estava atrasadíssimo. Tinha o tempo muito contado para chegar ao Instituto. Mas, claro, como frequentemente acontece, as coisas correram perfeitamente, como se houvesse um relógio universal a tomar conta de todas das nossas acções, encadeando-as naturalmente umas nas outras. Tão bem controladas, que o Sagara e eu acabámos por chegar no mesmo comboio ao Instituto, embora não tivéssemos planeado nada e ele já estivesse em Nova Iorque há uns dias.
Atravessar Nova Iorque rapidamente até à Central Station para apanhar o comboio para Garrison (o Instituto fica exactamente em frente de West Point!) teve o sabor de viver um mito - as imagens que temos desta cidade estão inscritas nas centenas ou milhares de filmes que já vimos, e passar por estas ruas tem um quê de irreal. O taxista tinha todo o ar de um taxista nova-iorquino: era chinês, trazia um lenço vermelho na cabeça à maneira hip hop, e mascava ininterruptamente pastilha elástica, dando estalidos. Chegar à Central Station foi largar um desses mitos: há aquela cena em que o Bruce Willis não apanha o mau da fita porque um carrinho de bebé (com o bebé dentro!) começa a deslizar pelas escadarias e ele tem, claro, de o salvar. O carrinho começa a deslizar dramaticamente em câmara lenta, e a escadaria parece monumental e nunca mais acabar. Pois bem, não é assim. A escadaria não é assim tão monumental.
O retiro e o silêncio começou "oficialmente" domingo à noite. A mensagem da introdução: não estamos ali para nos "entretermos", para pensar este fala bem, aquele não sabe o que diz. É o "nosso" retiro. Uma oportunidade para investigar o que funciona, por nós mesmos. Para mim, é como se fosse o meu primeiro retiro. Na entrada da sala de meditação (a antiga capela), a frase, em maiúsculas "RESISTANCE IS FUTILE".
As condições eram perfeitas. A temperatura era perfeita. A comida era perfeita. O lugar, as pessoas. Tudo era perfeito. Não tinha muito a ideia que os americanos (pelos menos aqueles que estavam ali, e eram uns 170) eram tão organizados socialmente. Existem regras, eles cumprem-nas, também só assim o retiro se passaria de uma forma tão suave. O silêncio não foi quebrado, nem aquando dos alertas de incêndio em que tivemos de vir cá para fora, a chover (um episódio hilariante). Nunca como aqui senti as regras como parte de um ritual estabelecido para o benefício de todos.
Senti o silêncio como um grande presente. Um presente que oferecíamos uns aos outros. O silêncio é a possibilidade de poder acolher tudo o que está. Todos os sons, todos os movimentos. Todas as danças da mente. Podemos acolher o barulho da casa, o som dos pássaros e dos insectos, o apitar dos comboios que passam ao longo do rio Hudson. E sentir como estamos ligados a tudo.
mais fotos em http://www.flickr.com/photos/chumani/
A viagem foi marcada por "largar". Comecei por ter de largar coisas como champô, pasta de dentes, perfume, corta-unhas, comprimidos de ferro, etc. por causa das tais medidas anti-terroristas nos aeroportos. E depois, largar pensamentos menos positivos. Já repararam como a maior parte dos "filmes de antecipação" que dirigimos na nossa cabeça, simplesmente não acontecem? O voo estava atrasadíssimo. Tinha o tempo muito contado para chegar ao Instituto. Mas, claro, como frequentemente acontece, as coisas correram perfeitamente, como se houvesse um relógio universal a tomar conta de todas das nossas acções, encadeando-as naturalmente umas nas outras. Tão bem controladas, que o Sagara e eu acabámos por chegar no mesmo comboio ao Instituto, embora não tivéssemos planeado nada e ele já estivesse em Nova Iorque há uns dias.
Atravessar Nova Iorque rapidamente até à Central Station para apanhar o comboio para Garrison (o Instituto fica exactamente em frente de West Point!) teve o sabor de viver um mito - as imagens que temos desta cidade estão inscritas nas centenas ou milhares de filmes que já vimos, e passar por estas ruas tem um quê de irreal. O taxista tinha todo o ar de um taxista nova-iorquino: era chinês, trazia um lenço vermelho na cabeça à maneira hip hop, e mascava ininterruptamente pastilha elástica, dando estalidos. Chegar à Central Station foi largar um desses mitos: há aquela cena em que o Bruce Willis não apanha o mau da fita porque um carrinho de bebé (com o bebé dentro!) começa a deslizar pelas escadarias e ele tem, claro, de o salvar. O carrinho começa a deslizar dramaticamente em câmara lenta, e a escadaria parece monumental e nunca mais acabar. Pois bem, não é assim. A escadaria não é assim tão monumental.
As condições eram perfeitas. A temperatura era perfeita. A comida era perfeita. O lugar, as pessoas. Tudo era perfeito. Não tinha muito a ideia que os americanos (pelos menos aqueles que estavam ali, e eram uns 170) eram tão organizados socialmente. Existem regras, eles cumprem-nas, também só assim o retiro se passaria de uma forma tão suave. O silêncio não foi quebrado, nem aquando dos alertas de incêndio em que tivemos de vir cá para fora, a chover (um episódio hilariante). Nunca como aqui senti as regras como parte de um ritual estabelecido para o benefício de todos.
Senti o silêncio como um grande presente. Um presente que oferecíamos uns aos outros. O silêncio é a possibilidade de poder acolher tudo o que está. Todos os sons, todos os movimentos. Todas as danças da mente. Podemos acolher o barulho da casa, o som dos pássaros e dos insectos, o apitar dos comboios que passam ao longo do rio Hudson. E sentir como estamos ligados a tudo.
mais fotos em http://www.flickr.com/photos/chumani/
quinta-feira, agosto 10, 2006
O que levar
Hoje estive a verificar a lista que me enviaram do Garrison Institute para o retiro.
O que levar: despertador (o telemóvel deve dar), artigos de toilette, chinelos e roupão, xaile ou tecido leve, diário (opcional, mas vou tentar escrever todos os dias), lanterna e pilhas (tenho a lanterna, mas não consigo abri-la para ver o tamanho das pilhas a comprar), repelente de insectos (oops, isto não parece bom), roupa larga, em camadas e "não-distractiva" (uma forma interessante de a descrever).
O que deixar em casa: comida (e então as bolachinhas?), rádio, livros, desodorizantes e loções com perfume, telemóveis (e então o despertador?), pager, drogas, álcool, perfume, óleos essenciais, aftershave (no problem), velas ou incenso.
Opcional: leque pessoal (não há ar condicionado).
Portanto, se percebi bem, vamos ser um bando de malcheirosos, a tentar sentar enquanto coçamos as picadas dos mosquitos e abanamos o leque. Esqueceram-se de mencionar uma coisa a deixar em casa: expectativas.
O que levar: despertador (o telemóvel deve dar), artigos de toilette, chinelos e roupão, xaile ou tecido leve, diário (opcional, mas vou tentar escrever todos os dias), lanterna e pilhas (tenho a lanterna, mas não consigo abri-la para ver o tamanho das pilhas a comprar), repelente de insectos (oops, isto não parece bom), roupa larga, em camadas e "não-distractiva" (uma forma interessante de a descrever).
O que deixar em casa: comida (e então as bolachinhas?), rádio, livros, desodorizantes e loções com perfume, telemóveis (e então o despertador?), pager, drogas, álcool, perfume, óleos essenciais, aftershave (no problem), velas ou incenso.
Opcional: leque pessoal (não há ar condicionado).
Portanto, se percebi bem, vamos ser um bando de malcheirosos, a tentar sentar enquanto coçamos as picadas dos mosquitos e abanamos o leque. Esqueceram-se de mencionar uma coisa a deixar em casa: expectativas.
segunda-feira, agosto 07, 2006
Alentejanices
Este tempo e este vento quente dá para pensar nestas coisas. O movimento slow (também conhecido por devagar, que amanhã também é dia!) começou no dia em que os habitantes de Roma se deram conta que iriam ter um MacDonald na Piazza di Spagna (um pouco como se tivessem decidido, sei lá, pôr uma estação do metro na Praça, aqui no Porto!). Fala-se de movimento e não de organização, até porque é sobretudo uma atitude, uma forma de estar, que se relaciona com muitos campos e actividades - a cozinha, mas também a educação, a meditação, o comércio, a construção, a urbanização, as terapias.. e, claro, está, a política. A ideia também não é ficarmos sentados à sombra da bananeira, mas sermos mais conscientes em relação a como usamos o nosso tempo, a como vivemos, a sermos mais selectivos em relação às nossas actividades, e a darmos espaço e tempo para apreciar integralmente aquilo que fazemos.
Vejo o movimento slow como uma manifestação de atenção plena, mindfulness, uma espécie de movimento eco-epicúrico, não no sentido nostálgico de querermos recuperar algo do passado, mas de pôr em questão esta pressa toda e encontrar um equilíbrio, no reconectar com a fruição do agora. Porque afinal, para onde vamos assim a correr? e o que é mais importante, afinal? No dia-a-dia habituámo-nos a que tudo tem de ser rápido, fácil e prático. Inventaram-se técnicas, produtos e sistemas, em princípio para "descomplicar", para simplificar a vida, mas estamos muito longe da visão de Bertrand Russell de que o homem do futuro estaria mais preocupado em gerir o ócio - pelo que se vê as pessoas "não têm tempo". E aliás, se há um momento de "vazio", apressam-se rapidamente a preenchê-lo.
Para os pais, é cada vez mais necessário relaxar em relação ao horário das crianças - se vão à escola, ao ballet, ao piano, à ginástica, à informática, etc., quando é que têm tempo para ser crianças?
Algumas formas de abrandar:
- arranja um hobby completamente radical, um hobby "lento" - tricotar, fazer yoga, chi kung, pintar, jardinar
- pára de olhar para o relógio o tempo inteiro e nos fins-de-semana tenta seguir o teu ritmo "natural", de preferência esquece despertador e relógio
- faz compras numa feira, num mercado, telefona para o Raízes
- faz refeições completas sentado a uma mesa, sem televisão, sem leitura, sem telemóvel, aprecia a comida e a conversa, se estiveres com outros
- nas férias, abranda mesmo; não é preciso fotografar todos os lugares e seguir uma lista de todos os monumentos e ter um horário para cada actividade
- reserva tempo para as pessoas e actividade de que gostas - na verdade, ao querer preencher freneticamente todos os momentos, não resulta em mais criatividade e eficácia... isso inclui, tomar banho com alguém que amas!
O título "alentejanices" não pretende ser, de modo nenhum, depreciativo! é mesmo uma homenagem a uma região fantástica de muitos pontos de vista! para nem falar de uma culinária tradicional absolutamente incrível!
Vejo o movimento slow como uma manifestação de atenção plena, mindfulness, uma espécie de movimento eco-epicúrico, não no sentido nostálgico de querermos recuperar algo do passado, mas de pôr em questão esta pressa toda e encontrar um equilíbrio, no reconectar com a fruição do agora. Porque afinal, para onde vamos assim a correr? e o que é mais importante, afinal? No dia-a-dia habituámo-nos a que tudo tem de ser rápido, fácil e prático. Inventaram-se técnicas, produtos e sistemas, em princípio para "descomplicar", para simplificar a vida, mas estamos muito longe da visão de Bertrand Russell de que o homem do futuro estaria mais preocupado em gerir o ócio - pelo que se vê as pessoas "não têm tempo". E aliás, se há um momento de "vazio", apressam-se rapidamente a preenchê-lo.
Para os pais, é cada vez mais necessário relaxar em relação ao horário das crianças - se vão à escola, ao ballet, ao piano, à ginástica, à informática, etc., quando é que têm tempo para ser crianças?
Algumas formas de abrandar:
- arranja um hobby completamente radical, um hobby "lento" - tricotar, fazer yoga, chi kung, pintar, jardinar
- pára de olhar para o relógio o tempo inteiro e nos fins-de-semana tenta seguir o teu ritmo "natural", de preferência esquece despertador e relógio
- faz compras numa feira, num mercado, telefona para o Raízes
- faz refeições completas sentado a uma mesa, sem televisão, sem leitura, sem telemóvel, aprecia a comida e a conversa, se estiveres com outros
- nas férias, abranda mesmo; não é preciso fotografar todos os lugares e seguir uma lista de todos os monumentos e ter um horário para cada actividade
- reserva tempo para as pessoas e actividade de que gostas - na verdade, ao querer preencher freneticamente todos os momentos, não resulta em mais criatividade e eficácia... isso inclui, tomar banho com alguém que amas!
O título "alentejanices" não pretende ser, de modo nenhum, depreciativo! é mesmo uma homenagem a uma região fantástica de muitos pontos de vista! para nem falar de uma culinária tradicional absolutamente incrível!
sexta-feira, agosto 04, 2006
O pássaro azul da felicidade
"Mas, para mim, o pássaro azul da felicidade continua existindo mesmo, e canta todas as manhãs no meu pequeno jardim cheio de flores, onde a felicidade é eu estar viva, presente no instante, com a mente serena, serena, sendo apenas um reflexo da paisagem." - de uma amiga, também pisciana, do outro lado do Atlântico!
Eco-casa
"As nossas casas são o sítio ideal para começarmos a modificar as nossas vidas através da permacultura. Todos podemos observar o funcionamento das nossas casas e das nossas famílias e arranjar soluções inventivas para reduzirmos o consumo de materiais e energia, reduzirmos o desperdício e a produção de resíduos, diminuirmos a nossa dependência do "sistema exterior", aumentarmos a nossa autonomia e em suma, reduzirmos a nossa pegada ecológica no planeta." Estes artigos da Hortelã Verde são fantásticos e muito bem escritos, e podem ter interesse para todos! A continuação do artigo sobre a eco-casa está em Novembro de 2005. Confesso que nunca tinha visto o conceito de permacultura desta forma, pensava que era mesmo só para quem tem uma quinta não sei onde!
quinta-feira, agosto 03, 2006
Ser e parecer
Dizia Helen Keller: "segurança é sobretudo uma superstição. Não existe na natureza... A vida ou é uma aventura ou não é nada." O post do Pedro Observação de raízes vai de encontro a muito daquilo em que tenho andado a pensar ultimamente. Não sei se é só por causa da minha situação actual ("desempreguei-me"), ou se são daquelas ideias que andam no ar. O Pedro trocou a segurança de uma vida "estável" por um projecto de agricultura biológica. Conheci alguém que deixou uma situação com "status" como engenheiro para tirar um curso de enfermagem. Ainda há pouco, outra pessoa com uma situação igualmente estável acabou com os projectos a que se dedicava profissionalmente "com os quais a nossa saúde mental e física fica muito abalada e cada vez mais débil" para se dedicar integralmente à permacultura.
Há uma história Zen em que o estudante pergunta ao professor: "Por favor, podes ajudar a libertar-me?" E o professor responde: "Quem te prende?"
É uma pergunta essencial a fazer a todo o momento.
Uma papoila azul, do outro lado do oceano, interroga-se sobre algumas destas e outras ideias:
"I am very safe in my corporate job that keeps me from having any energy to put toward a creative life. I am protected by the extremely normal appearance I put forward when people see I work a corporate job.
And now I’ve left that to find creative work that will allow me to blossom into my own creative self—whatever shape that will be. And it is that, which scares me. It is opening the door to self-expression that causes me to hold back, to freeze."
Há uma história Zen em que o estudante pergunta ao professor: "Por favor, podes ajudar a libertar-me?" E o professor responde: "Quem te prende?"
É uma pergunta essencial a fazer a todo o momento.
Uma papoila azul, do outro lado do oceano, interroga-se sobre algumas destas e outras ideias:
"I am very safe in my corporate job that keeps me from having any energy to put toward a creative life. I am protected by the extremely normal appearance I put forward when people see I work a corporate job.
And now I’ve left that to find creative work that will allow me to blossom into my own creative self—whatever shape that will be. And it is that, which scares me. It is opening the door to self-expression that causes me to hold back, to freeze."
quarta-feira, agosto 02, 2006
Hera Silvestre
Hakuin Ekaku é uma personalidade única no Zen... e muito original! Com um humor muito próprio e uma busca incessante e unidireccionada ("Quando a decisão de procurar a via começou a arder em mim, fui levado pelos espíritos dos montes e dos rios para os altos cumes de Liyama") foi respeitado pela sua coragem e determinação, e por uma independência que não admitia compromissos. Foi um dos poucos mestres Zen a escrever sobre a sua vida espiritual e deixou um sem número de textos, caligrafias e trabalhos artísticos.
em cima, a caligrafia de Hakuin "Pais"
(um espanto!)
Segundo afirma nos diários que escreveu, atingiu um dos seus dezoito satoris ao penetrar estes versos do Mestre Ta-hui (nós, comuns mortais, só os lemos, não os penetramos):
Lotus leaves,
perfect discs,
rounder than mirrors;
Water chestnuts,
needle spikes,
sharper than gimlets.
"Foi como ver um sol radioso a brilhar na escuridão. Cheio de alegria, estrebuchei, tropecei, e caí na lama."
The sound of raindrops pattering on the fallen autumn leaves,
though sobering to the soul,
Cannot compare to the splendid rich intimacy of sunset clouds
casting a warm glow over fields of yellowing grain
Da autobiografia Wild Ivy:
A melancolia outonal do primeiro verso evoca o sentimento de impermanência; no segundo verso, a alegria e afirmação experimentadas ao penetrar a percepção da impermanência e da morte e ao emergir no reino iluminado da sabedoria última.
Ao ler a autobiografia, achei piada quando percebi que tinha todos os dados do nascimento dele - nasceu no vigésimo quinto dia do décimo segundo mês de 1685, ou, pelo calendário ocidental, a 19 de Janeiro de 1686, na cidade de Hara, perto do Monte Fuji; e a mãe tinha-lhe dito que nascera ao primeiro canto do galo, às duas da manhã, portanto foi um instantinho para fazer a carta astrológica dele. Um Capricórnio ascendente Escorpião. Torei, o mais próximo discípulo, descreve-o como tendo "o pesado e deliberado movimento de um búfalo e o olhar de um tigre feroz!". A vida dele é uma combinação perfeita de rectidão, até de rigidez, e determinação capricornianas, e da intensidade e do extremismo do escorpião. A parte Peixes pode estar nas suas visões e arte. Também explica a compaixão e gentileza de que deu provas, ao lado do rigor e da severidade. Uma combinação destas também pesa no inferno que atravessou com a "doença Zen" e a capacidade de se erguer e curar-se.
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